sábado, 6 de agosto de 2011

Dois meses inteiros a abrir a mala, pela manhã, tirar o saquinho plástico, desatar-lhe o nó, tirar a caixa, abri-la, desembrulhar a bula, lê-la pela milésima vez, olhar as cápsulas verdes e brancas com inscrição e dia da semana por baixo, voltar a colocá-las junto com as demais, dobrar a bula pelas marcas, fechar a caixa, colocá-la dentro do saquinho, atá-lo, metê-lo na mala e puxar o fecho, respirando fundo dez vezes acreditando ser capaz de ultrapassar tanta mágoa sem pózinhos de perlimpimpim. Todos os dias. Mais de sessenta dias. Foi ontem o último. De tanta dor, de tantas horas de mar e lágrimas sairam a coragem e a certeza de que o inevitável passa pelas cápsulas verdes e brancas com inscrição e dia da semana por baixo. Hoje de manhã engoli a primeira. Umas centenas ainda estão pra vir. Novas forças e sorrisos virão. Abraços precisam-se.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

sábado, 6 de novembro de 2010

História das mãos


Num Dia de Africa de não sei já quantos anos atrás, no Palácio Foz, ouvia-se uma música lindissima por todos os lugares. De salão em salão fui procurando de onde vinha tamanha magia. Num recanto, bem recatado, o Galissa dedilhava a sua kora. Contou-me da cultura mandinga e do trabalho que tem desenvolvido de divulgação da kora. De quando em quando damos notícias ou cruzamo-nos por aí. Desse dia guardo a magia da descoberta do som da kora, o sorriso aberto do Galissa e nós duas saidas do pavilhão, ainda de fato de treino entre ilustres damas e cavalheiros em traje de cerimónia.

sábado, 30 de outubro de 2010

vidas nossas de todos os dias



Tantas vezes perco o rumo e fico sem saber de mim. Em que vidas estou. Tem vezes nem mesmo sei onde pára a realidade e se este meu mundo existe ou se é tudo de faz de conta.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

tem dias ...

Tenho pouco jeito para branduras ou para pôr paninhos quentes no que já fede ou azedou. Tem vezes gostava de saber ser branda sem chegar a frouxa e ir polindo ímpetos e frontalidade adiáveis. Noutras vezes nem penso nisso. Até me riu quando sangue do meu sangue me adjectiva de rústica, em estado de quase amargura ou pura vergonha. Mas isso é nos dias sim, como hoje. Fantástico o dia de hoje. A febre partiu em busca de corpo que melhor a tratasse, despedi-me dos números e relatórios ainda em pendência, entrei para ganhar na velha batalha da igualdade de géneros, a criançada zaragateia animada pela casa em desalinho e a perna do Bidji já treina fintas e ataques de vitória.

sábado, 18 de setembro de 2010

por aí ...

Ainda era cedo mas já tinha escurecido. A marginal estava quase deserta e pairava uma espécie de neblina sobre o rio. Desencaminhei-me do encontro marcado. Em Belém o cais estava deserto. Soprava um vento fresco. Estendi-me sobre um bloco de pedra e fui ficando. Contando estrelas e barcos. Quanto tempo passou nem sei. Apanhei o último barco e, do convés, fui descobrindo lugares e imaginando amores e desamores acontecendo em cada uma das sete colinas. Lisboa é linda vista do Tejo. À noite. Em silêncio. Dum barco vazio.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mãe Preta


Sempre que cada um de nós brilha, os corações de todos batem mais rápido. De alegria e de orgulho. De comoção também.

Esta estória começou uns dias antes, sem alardo nem burburinho. O Bruno Huca passou pelo "5 para a meia-noite" com a sua Tralha Mestiça e deixou-me sem fala com a magnífica interpretação do "Prelúdio" da Alda Lara. Confessei-lhe meio em surdina que o fôlego quase me tinha fugido ao ouvi-lo. E, pensava eu, tudo ficaria entre nós. Poucos dias depois deixou-me sem pingo de sangue e inchada nem perú de Natal ao dedicar-me o tema, cantando-o ao vivo, num rasgo de amor e carinho que me marcará por toda a vida.

E a noite parece se queria de glória. Ao Bruno juntou-se a nossa Maria e juntos interpretaram "Lágrima". E eu, que nem sou de fados nem de lágrimas pasmei e chorei com aqueles dois. Mano a mano, arrasando, no Palco 3 do entreMITOS.

Os nossos corações bateram mais rápido. De alegria, de orgulho. De comoção também.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

por aí

Uma rua inteira de oficinas que não existem em papel nenhum. Nem a rua. Nem as casas que as abrigam. Nem tão pouco muitos dos homens que por lá labutam. Cheira a maçaroca assada, a terra molhada e a figos verdes ainda por apanhar. Cruzam-se línguas e sotaques de muitos mundos. Soam assobios afinados e por afinar, kizombas, terço da renascença e sempre muita troca de galhardetes. Das mãos calejadas do Baio sempre sai um carro de volta aos trinques, um abraço muito apertado e o sorriso enorme que trouxe bem guardado no fundo do barco que o trouxe da Nigéria.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

dois pra dois

Os meus gémeos têm os olhos mais esbugalhados e meigos do concelho e arredores. Arredios e curiosos, mais mudos que tagarelas, raramente alteram a expressão tristonha ou o baixo timbre de voz . Partilham uma única bicicleta e vão alternando o pedalar com a corrida que lhes garante voltar a ocupar o selim. Sorriem quando falam do sonho grande de serem futebolistas. Os melhores do campeonato. Com chuteiras de verdade e estádios inteiros de adeptos a gritarem os seus nomes.

Se a África do Sul fosse mais perto, amanhã iamos os três à bola ...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

no feminino

Balneário feminino a caminho do Verão continua a surpreender-me ano após ano. Não sei distinguir qual ou quais são, de facto, os sentimentos que me assaltam. Inveja dos corpos esculturais que farão furor nas praias da moda, piedade pelos muitos sacríficios que a coisa acarreta ou até admiração pela facilidade com que elas distinguem cada boião e aplicam cada mistela conforme as instruções. A coisa começa no duche com gel para o corpo, gel redutor adelgaçante e champô, amaciador e máscara para o cabelo. Seguem-se o hidratante suave que deve ser massajado em círculos curtos enquanto o regenerador capilar actua nas raízes recém pintadas. Creme anti-estrias em roll-on para as zonas com tendência a flacidez, o anti-celulítico para evitar qualquer casca de laranja que se atreva a aparecer, um retardador de crescimento dos pelos para as pernas, uma massagem no pescoço com um líquido meio dourado que dizem custa uma fortuna, hidratante facial, contorno dos olhos para acabar com as patas de galinha, protector solar de écran total para tudo o que está à mostra e um específico para o cabelo, que parece tende a ruçar e a perder brilho e volume. Só para rematar vai uma massagem aos pés com o gel apropriado e às mãos com creme Pro-vitamina B5 para mãos e unhas. Depois de maquilhar, secar e esticar o cabelo estarão prontas para almoçar um batido energético que muda de côr consoante os dias da semana.

Tenho tanto por aprender ...



sexta-feira, 28 de maio de 2010



Ainda que se vá falando de planeamento familiar, da maneira correcta de colocar o preservativo e de como um filho muda, de facto a vida dos pais, principalmente quando jovens e sem uma estrutura económica e familiar estável, volta não volta recebo a novidade de mais um "neto" a caminho. Quase sempre estão felizes ainda que saibam que é grande a probabilidade de o criarem sózinhas.

Já conhecem esse filme de cor e salteado.
Também foi o delas, mais das vezes.
mmm

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Silêncio mata!



Não me venham dizer que é a crise, que é o desemprego, que é a falta de dinheiro e que tenhamos paciência porque mais dia menos dia vai passar. Os comportamentos racistas têm vindo a aumentar SIM. Sentímo-lo todos os dias. Às vezes nas entrelinhas, em surdina mas, cada vez mais à descarada, completamente explícito.

Está nas mãos, no coração e principalmente na voz de todos nós mudar o rumo.

mmm

sábado, 22 de maio de 2010

40


Os anos foram passando um após o outro sem dar tempo para grandes reflexões sobre assunto dado como arrumado. Na pressa de ganhar a vida, de educar filhos, de fazer jantar, de tratar da casa, dos impostos, do marido, da inspecção do carro, da vacina do cão, das reuniões de pais e de mais as emergências todas que iam surgindo fora-se esquecendo ainda existia e adiando sonhos por cumprir. Negou-se a prazeres por receio de gostar. Fingiu-se fortaleza para não fraquejar. Ironizou o amor para não o chorar.

Dizem, os 40 são a década da verdade e da loucura.

Assim seja!

aaaaa

domingo, 9 de maio de 2010

Nacionalidade SIM!

Nasci em Portugal.
Os meus pais são imigrantes.
Trabalham dignamente,
fazem descontos
e pagam impostos.
Nunca saí de Portugal.
Esta é a minha única terra.
Estudo em português
e vibro de orgulho pela selecção.
Porque é que insistem em chamar-me

estrangeiro????????
mmmmmmmmmmmm

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Momentos

As viagens de carrinha de e para os treinos e jogos são momentos fantásticos de partilha e de convívio.
Não resisto a partilhar uma conversa maravilhosa de há uns dias atrás:
- O teu namorado agora ficou mal do outro joelho , como é que ele anda?
- Coxo, né?
- E tu sais com ele assim todo coxo?
- Ele é o meu amor. Nem tivesse só metade eu amava-o à mesma...
(lindo ...)
- Desculpa lá que isso depende da metade...
(Apupos)
- O QUÊ?
- Daahh! É que sem instrumento não tem orquestra ...
- Olhem só a certinha direitinha a falar em orquestra ...
(Risota geral e picanço acelerado)
- Tu tás fresca!! Tás, tás!!
-Não é nada disso! Orquestra não é bué gente a tocar música?
- É ...
- Atão o que eu tava a dizer é que sem instrumento ele não vai te dar bué filhos pra sentar na mesa e fazer bué barulho tipo orquestra ...
(gargalhada geral)
- Tu não tás no estágio. Tu és sonsa profissional estrela de cinema!

É tão fixe partilhar os quinze anos delas ....

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Lição de português

Esta tarde sonhámos acordados sob as laranjeiras da Quinta do Salles, escutando as estórias que a ventania ia trazendo de terras inventadas. Devia falar-lhes de tempos verbais, de pronomes, sujeitos, predicados e complementos. Agarrámos nas palavras sopradas e demos-lhes passados, presentes e futuros em lugares de todos e de ninguém. Formámos frases simples e compostas, criando um rap ritmado, onde putos alegres cantavam sintagmas, saltavam ao eixo com o sujeito poético e rimavam palavras tão dificeis de dizer que nem vinham no dicionário.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Tem dias

Tem dias não devia ter. Ou devia. Já nem sei. Ainda esta tarde alguém dizia que as vivências que doem nos fazem aprender e melhorar. Antes mais burra e pior eu queria hoje ser. Parece fervilha cá dentro. Pode até deitar por fora se não apagar o lume. Aí mora o difícil. Se apago piso e repiso numa frouxidão que nem emprestada é. Quanto mais minha. Se incêndio pega pode até queimar demais e se a água tarda em chegar lá se vai seara, monte e tudo.

Ouviste-me chamar-te?
Era só um abraço.
Só. E era tanto.
mmm

terça-feira, 13 de abril de 2010

Valproato de Sódio


Em nostalgia das minhas caminhadas pela Meia-Praia, deixei a prole encaminhada e lá fui, paredão afora, ainda que sem babuja nem cheiro de maresia.

Em passadas largas, fui-me alheando e deixando-me ir em preocupações, novas ideias mais ou menos loucas e sonhos impossiveis quase quase a ser de verdade. Nem teria dado conta da multidão e do jovem estendido no chão, não fôra ter escutado como que uma campainha pavloviana. Epilepsia.

Num repente e de rajada, nem filme a milhares de rotações passaram-me anos de vida pela frente. Também era jovem. Também tropeçara numa brincadeira. Também caíra e batera com a cabeça. Também estrebuchava e espumava pela boca revirando os olhos. Também os amigos estavam assustados e sem saber que fazer. Um dia também fôra assim comigo. Contaram-me.

Lembro que no depois, faltavam muitas palavras e fazeres e pessoas e vidas. A descoberta do descobrir demorou demais. Nalguns casos não voltou. Levou anos a partir e a libertar-me de vez das pastilhas coloridas que odiava e a quem me sentia acorrentada.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

pressa de não crescer



Parece-lhes impossivel ter crescido num mundo sem telemóveis, hi5 ou centros comerciais e ficam extansiadas com a pré-história que foi a minha adolescência nos idos anos setenta e tal oitenta. Que faziamos, que falávamos, que música ouviamos, por onde passeávamos e namorávamos num mundo que lhes parece era parado, amorfo e sem interesse.

Falei-lhes de quilometros e quilometros à boleia para colar cartazes de espectáculos, de dias inteiros de Meia-Praia, da descoberta da cidade grande, dos namoros de Verão, das viagens de comboio todos os fins-de-semana entre Lisboa e Lagos, dos amigos e das músicas do Barimbar, das cartas chegadas e enviadas, do LP duplo do Simon e Garfunkel no Central Park, do Cinema Império e dos filmes poucos que por lá passavam, da Casa das Artes onde passei semanas de tardes a ler, dos passeios pelas arribas do Pinhão à Ponta da Piedade, do viver num quarto alugado e numa residência universitária, partilhando livros, experiências, saberes e comeres, da corrida do Hot Club até ao Cais do Sodré para o último comboio, dos almoços pelos jardins de Lisboa, das noites inteiras de conversa e de cantigas, da piscina e da pista de dança do Charlie Chilly da Aquazul, do regresso a pé da Horta2, dos banhos no canal da barragem em Arão, dos tantos casamentos em que toquei a Marcha Nupcial e a Oração de São Francisco, da minha banca no mercado da reforma agrária a medir tensões arteriais, da recolha de estórias, modas e mézinhas que fiz com os idosos da Santa Casa, de dormir ao relento, de ir à biblioteca buscar livros, de gravar cassetes com as músicas preferidas, de amar perdidamente e não ser correspondida, dos autocarros verdes de dois andares, do barquinho a remos para a Meia-Praia, de acordar de madrugada para ir à maré ao Rio de Alvor, da alfabetização de mulheres imigrantes, de amassar e cozer pão no forno de poia de São Marcos, de fazer brincos e pulseiras de missangas e arame cobreado, de ir à vindima aos Matos Brancos, de varejar amêndoas na minha Atalaia, de fazer babysitting a miúdos estrangeiros, de ler o Papalagui na Praia dos Estudantes, da desilusão que foi a Costa da Caparica, dos cafés intermináveis no Abrigo e na Britaica, das vidas contadas às escuras, dos acampamentos na Praia da Adraga, das muitas directas a estudar e a fazer trabalhos de grupo, do nascer da paixão, do gosto pela novidade e do eterno vício de sonhar acordada.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

vidas ...



Chegou há quase 20 anos. Jovem atleta, alegre e bem parecido, atrás do sonho de uma vida melhor. De andaime em andaime foi calejando as mãos e amealhando para uma barraca só sua. Em dúzia e meia de meses subiu paredes, rasgou janelas para o vale de Miraflores e pôs fogão, cama, mesa e poucos mais tarecos numa casa feita à sua medida. Poucas Primaveras depois o trabalho tornou-se escasso na grande cidade. Apanhou um comboio em Santa Apolónia e desceu na última paragem. Não sabia o nome do lugar mas tinham-lhe dito que, por lá a construção cívil ia em grande. Estava muito frio, já era noite e estava cheio de fome. Dinheiro nem vê-lo. Nem gente tampouco. Na manhã seguinte andou de obra em obra, pedindo trabalho. Afinal a fartura não era o que lhe tinham vendido. De pedreiro a servente foi o caminho para a sobrevivência e a fuga à miséria maior. À noite, quando se recolhia no contentor com os companheiros, alheava-se das brigas e das gritarias e sonhava com a vida de família que havia de construir na tal casinha com vista pró Mar d´Algés. Não sonhava que por lá, os buldozzers derrubavam, uma a uma, barraca a barraca. Chamavam-lhe irradicação e ofereciam promessas de progresso em prédios altos, sem quintais nem hortas e onde os autocarros raramente chegavam. No regresso, em vez da casa só achou pedras e tábuas e vidros sepultando os poucos haveres que eram seu único pecúlio. De repartição em repartição contou a sua estória. Técnicas e técnicos deram-lhe impressos a preencher e mandaram-no aguardar uma resposta que nunca chegou. Os documentos caducaram e os patrões fecharam-lhe as portas. A tristeza e o alcool roubaram-lhe o brilho do olhar. Acolheu-o a rua. Às vezes lembra-se que ainda existe e volta à luta pela identidade, por um trabalho, por um tecto, pela dignidade a que TODOS DEVERIAMOS TER DIREITO.



mmm

domingo, 7 de fevereiro de 2010

jeunesse, jeunesse


Como é que eu sei que chegou a altura? Como é que eu faço para a minha mãe não me prender tanto? Porque é que me apetece chorar quando não aconteceu nada triste? As minhas amigas dizem que é fatela eu ter preservativos guardados para quando acontecer … e se ele não tiver? As setôras dizem que eu refilo muito e que falo alto. Tenho que arranjar namorado depressa senão não tenho prenda no dia dos namorados e toda a gente vai perguntar o que é que recebi e eu não quero mentir mas também não quero dizer a verdade …

Quando andamos na creche é tudo fixe. Os anjos não percebem que as mães são infelizes nem que há contas pra pagar nem que os homens são quase todos uns filhos da puta que fazem filhos numas e noutras e não são pais de verdade de nenhum. Quando somos pequenas há sempre mães e tias e avós que nos carregam para todo o lado e tratam de nós e depois crescemos, e vimos a verdade, e parece ficamos parvas que já quase vamos na conversa dos rapazes, pra ser como foi com a nossa mãe …

Mas os rapazes também não são todos iguais …

Como é que eu sei que chegou a altura? Como é que eu faço para a minha mãe não me prender tanto? Porque é que me apetece chorar quando não aconteceu nada triste? As minhas amigas dizem que é fatela eu ter preservativos guardados para quando acontecer … e se ele não tiver? As setôras dizem que eu refilo muito e que falo alto. Tenho que arranjar namorado depressa senão não tenho prenda no dia dos namorados e toda a gente vai perguntar o que é que recebi e eu não quero mentir mas também não quero dizer a verdade …


... pois não?



mmmmmmmmmmm

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Amor

- Idade?

- 78 anos

- Estado?

- Quê?

- Se é casado ou viúvo ou solteiro?

- Casado.

- Há quanto tempo?

- Desde 2004.

- Então é recente o casamento?

- Tem 55 ano.

- Mas não disse que foi em 2004?

- Nós estávamos os dois há mais de 50 ano sem casar mas eu não queria morrer homem solteiro e disse que era para casar.

- E ela ficou toda contente?

- Não, ela nem queria casar. Então eu disse ela não casasse eu ia casar com outra porque homem morrer solteiro é coisa muito triste e então ela casou.

- Isso é que é amor...

- Isso do amor eu não percebo nada. Sei é que ela é boa companhia e muito minha amiga.

- E o senhor?

- Eu sou homem muito às direitas e nadinha de ser traquino nem 'trevido

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Bom dia Senhora Professora

Nem sempre a vida deixa os sonhos crescerem, ganharem asas e serem de verdade. Aos mais de setenta anos de idade o sonho de ir à escola chegou sem avisar. Uma mistura de nervoso miudinho, receio e alegria fê-los andar mais rápido, soltar a língua e contar lugares, momentos e desejos duma vida inteira de labuta em terra ainda alheia.

Parece até andaram mais rápido, ouviram melhor e compreenderam quase tudo o que já sabiam de cor e salteado. Coisas da vida que, afinal, foi a sua escola.

A ida à prova oral de língua portuguesa com um grupo de imigrantes idosos, que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever deixou-me tão mais rica. De saber e de coração.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Á hora da morte



E no silêncio do bairro solta-se um canto lúgubre. Arrepia de dor até numa tarde soalheira de Agosto. Àquele canto outros se juntam, anunciando a passagem da morte. Na casa da família enlutada adivinho o estender da toalha preta sobre a mesa, à volta da qual e durante uma semana, se rezarão terços. Como que na penumbra, começa a azáfama da maratona à volta do fogão e das panelas, preparando refeições para os muitos que virão despedir-se do finado e consolar a família.

Durante o funeral, em cortejo compassado, um canto polifónico de esperança em Nhor Deus e na eternidade ecoa pelas ruas que separam a igreja do cemitério. De quando em quando, como se de improviso se tratasse surge um canto chorado que fala dos laços, das vivências e da dor que existia com o ente perdido, ganhando intensidade e frequência com a proximidade da despedida.

Dando vida à hora da morte.



 
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