sexta-feira, 30 de outubro de 2009

15anos15anos15anos15anos15anos

Agora já nos finais de Outubro, quando a escola e os treinos já estabilizaram e deixaram de ser novidade, sobra mais tempo para as conversas, silêncios e desabafos. A carrinha cheia de miúdas com a adolescência a explodir por todos os lados, cheias de dúvidas e preocupações sobre assuntos deveras preocupantes: rapazes, amigas, beleza, rapazes, comida, rapazes, amigas e as quase terrriveis mães que praticamente acham que mandam nelas, naquela roupa preferida que acusam de ser de menos, nas horas de chegar que acham sempre a mais e ainda na escola que têm sempre a certeza que não tem a atenção merecida.

Falam tão alto que até dói lá no fundo dos ouvidos. Confesso que já teve dias que os atulhei de algodão, correndo o risco de nem ouvir alguma sirene que me avisasse que estava na hora de mudar de rumo, não fora encontrar-me com alguém, ainda que amigo, que não apreciasse assim onze ou doze miúdas mais eu dentro duma carrinha supostamente para nove pessoas. Eles às vezes são assim um bocadinho pouco compreensivos, exageram, nem percebem que elas são fininhas e que aconchegadas umas às outras até vão mais seguras.

E falam todas ou quase ao mesmo tempo. E cantam. Daquelas músicas fantásticas que falam de amor e de traição e que fazem choram as mais rústicas pedras de calçada. E contam, contam, contam. Da escola, das amigas que afinal não são bem amigas mas que amanhã ou daqui a bocado já são de novo, daquela imensa paixão que tira o sono à noite e o traz de volta logo na primeira aula da manhã, exactamente quando a setôra estava a explicar a matéria que saiu no teste de hoje e vá lá ver-se se não foi até de propósito, porque há setôras que até são más. As tais que não são bem amigas é que são um bocado anhadas e ainda têm a lata de dizer que foi bué fácil e isto tudo só porque o miúdo mais giro lhe calhou par na equipa de badmington do ano passado e foram juntos às finais ao Norte e ficaram lá sózinhos com a DT um fim-de-semana inteiro.

Elas não sabem é que ele afinal não foi o garanhão que ela descreveu pois muito pelo contrário. Mas se lhes contasse que o dito chuchava no dedo, chorou com saudades de casa e, pior de tudo, dormiu sempre de meias e pijama de flanela a sua reputação estava concerteza completamente arruinada.

E há riscos que uma miúda não pode correr ...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

contra a corrente

No princípio é sempre era uma vez de qualquer coisa. Já não lembro qual. A nossa estória de cumplicidade foi uma vez dum dia qualquer, quando os tempos ainda não eram comuns nem o querer caminhava em sentido único. Com o correr do tempo passámos a adivinhar as palavras por dizer e os anseios por alcançar, os apertos no peito e as graças que nos fazem gargalhar até doer quase tudo. A bola que girava apenas no campo passou a rolar ao ritmo dos meus fins de tarde, em cada giro que a carrinha faz pelos bairros; as más novas que lia apenas nos jornais ganharam outras perspectivas e trouxeram revolta pela inércia dum sistema que apenas vislumbra o só amanhã, não apostando em metas parcelares com lucros não imediatos. A incapacidade para continuar projectos já iniciados com fim à vista, a dor pela falta de participação activa de quem de direito, que afinal somos todos nós, a ignorância face ao óbvio que é o futuro social comum das gerações vindouras rouba-nos, em momentos de fraqueza, aquela força de lutar pelos amanhãs sonhados em que acreditamos, mesmo quando razão e as leis dos homens nos querem destinar o contrário.


Mana, nos sta djunto. Pa venci.


mmm

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

sem palavras

querida isabel,

passou quase um ano desde que te perdi o rasto. mergulhei por lugares que desconhecia existirem, rodei quilómetros procurando uma pista, escrevi centenas de mensagens que não chegaram ao destino e fiz-te morta quando tive certezas que estavas viva.

continuo por cá. nas mesmas lutas, nos mesmos lugares, acreditando quantas vezes no impossível e comprando guerras que podia fingir são de paz. sonhando demais provavelmente. ou fugindo do que me assusta e tormenta.

quantas e tantas vezes pensando por onde andas, que pensas, se sofres, se ris, se me riscaste da tua vida, se voltas, se ... duvidando da força do querer e abandonando esperanças vãs dum reencontro intemporal.

bastou ouvir-te a voz para que um misto de serenidade, pranto e vitória se instalasse. Tem vezes a razão é fraca e só o coração tem palavra.

ainda bem que voltastes.
 
BlogBlogs.Com.Br