quinta-feira, 23 de abril de 2009

afinal, quem ?

Chamaram-lhe Maria de Fátima e cresceu Fátinha. Atrás do sonho de vida melhor aterrou em Lisboa no princípio dos anos 90. Descobriu pouco depois que afinal não tinha vindo para o paraíso. A patroa não pagava nem fazia contrato, estava muito frio e a escola não aceitava estrangeiros não regularizados.

Penou nas filas do SEF e nunca chegou à sua vez. Fez o que continuam a fazer muitos imigrantes: inscreveu-se numa empresa de serviços com documentos mais ou menos emprestados por um conhecido, que dizia serem duma irmã que já tinha voltado para a terra. Apresentou-se como Georgina para trabalhar num hotel na linha do Estoril, poucos dias depois.

Parece a vida já lhe sorria. Gostavam dela no emprego, recebia gorjetas dos clientes, morava numa casa simpática com o companheiro e os dois filhos nascidos entretanto. Um dia a chefe chamou-a à recepção, alguém procurava por ela. Eram da polícia e vinham buscá-la. Por mais que explicasse que a Georgina não era ela, que os documentos que estavam na mala eram só emprestados, foi na mesma julgada e condenada a 4 anos por tráfico de droga.

Na cadeia foi conquistando a confiança de todos e com a ajuda de uma advogada oficiosa conseguiu ser ilibada de tráfico e condenada por utilização de documentos falsos. Saiu aliviada mas sabedora de todos os truques de como enganar o parceiro ou fazer seu o objecto alheio. Desesperada e sem emprego, envolveu-se e ao companheiro em burlas e gamanço e acabou por ser apanhada no SEF quando foi levantar documentos. O companheiro foi preso e ela expulsa do país.

Na terra só passou os dias necessários para visitar a família e arranjar passagem. Menos de uma semana depois aterrava em Lisboa como Edite. Apanhou os filhos na casa da amiga onde os tinha deixado, disse à patroa que tinha estado internada no hospital, alisou a cama que continuava desfeita, marcou a data de casamento para o mês seguinte e voltou à lida.

Actualmente marido e mulher trabalham, as crianças frequentam a escola oficial e aguardam que os cinco anos do período de expulsão chegue ao fim. Nesse dia, se tudo correr bem, talvez o Luís e o Zézinho deixem de ser filhos da Georgina, o pai deles se divorcie da Edite para casar com a Maria de Fátima e finalmente sejam uma família de verdade. E feliz para sempre, também.

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