Escrever cartas a quem se ama é sempre um bom incentivo para aprender a juntar letras e formar palavras. Tem sido assim, todas as manhãs cedo, enchendo folhas de papel pautado enquanto o parque acorda e os telefones ainda não tocam. Cartas de saudade, de desabafo, de reeinvindicação, de amor sonhado. Umas vezes de verdade e outras assim a modos que de faz de conta mas, sabemos ambas, é nessas que o coração solta a mordaça, fala solto e nos deixa a cabeça à roda, cheia de dúvidas e de vontade de traçar novos caminhos.
Se calhar devia ensiná-las a escrever só cartas de mentira, daquelas que começam por "Queridas primas, Desejo que esta carta as vá encontrar de boa saúde que eu estou bem graças a Deus", que terminam com "muitos beijos e abraços desta prima que muito vos estima" e que pelo meio falam do sucesso do emprego dos filhos, de como os netos vão bem na escola, da televisão nova que acabaram de comprar e do bom que é viver na Europa.
Mas essas são as cartas que depois da lição são deitadas no marco do correio. As outras, as que nunca são enviadas, falam das fraquezas, da pobreza, dos maridos ausentes, da falta de amor, da luta de cada dia, das patroas, do frio do Inverno, da demora dos documentos, da sede de afago,daquele aperto no peito que tira vontade de tudo e do grito rouco que vem lá do fundo e dá aquela força de continuar a acreditar em amanhãs melhores.
Esta noite, quando todos dormirem, vou escrever-me uma carta.
Se calhar devia ensiná-las a escrever só cartas de mentira, daquelas que começam por "Queridas primas, Desejo que esta carta as vá encontrar de boa saúde que eu estou bem graças a Deus", que terminam com "muitos beijos e abraços desta prima que muito vos estima" e que pelo meio falam do sucesso do emprego dos filhos, de como os netos vão bem na escola, da televisão nova que acabaram de comprar e do bom que é viver na Europa.
Mas essas são as cartas que depois da lição são deitadas no marco do correio. As outras, as que nunca são enviadas, falam das fraquezas, da pobreza, dos maridos ausentes, da falta de amor, da luta de cada dia, das patroas, do frio do Inverno, da demora dos documentos, da sede de afago,daquele aperto no peito que tira vontade de tudo e do grito rouco que vem lá do fundo e dá aquela força de continuar a acreditar em amanhãs melhores.
Esta noite, quando todos dormirem, vou escrever-me uma carta.
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