sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Natal todos dias!
Quando já quase é Natal
Parece que todos são fixes
Parece o mundo NEM TEM MAL!
Todo o pobre está quentinho
Tem comida e até presente
Mas bem antes do Carnaval
Rapa o frio, já tem fome
É enxotado. É DIFERENTE!
O people devia saber
Que isto do verbo ajudar
Não tem dia nem tem hora
É preciso é EDUCAR
Dizer à malta toda
Que recebem e que dão
Que caridade e peninha
Não são mesmo a salvação
O que vale é estar presente
Trabalhar acreditando
Que o mundo vai melhorar
E o nosso contributo VALE TANTO!
A consciência limpar
De pouco serve ou de nada
O Natal já vai passar
Vamos continuar a cravar
A melgar
A reclamar
A ACREDITAR
E tu, não pensas fazer nada?
Beijos gordos da são
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Parabéns Xé!
Eu tinha aqui uma dor
E fui lá no hospital
Dei o nome, esperei, entrei
E o gajo disse:
Tu não tens nada! Tu não tás mal!
Em pé não aguentava
Pegava fogo na testa
A barriga era um barril
Ele achava era festa
Achei tava a divagar
Da febre sempre subir
Mas era tudo verdade
Tavam-me a mandar ir.
E fui andando pra fora
Insultando todos e tudo
Eu tava a ser despachado
Isto era mais qu’um insulto.
O braço tava partido
A cabeça ao meio rachada
Um olho mais que vesgo
A garganta inflamada
Todo roxo e entrapado
Do pé até ao nariz
E o gajo que é doutor diz:
- Amanhã vai trabalhar que tu tás mais que fixe!
Eu sou porreiro e bacano
Mas não sou parvo de todo
Encostei o peito ao mano
E deixei-o todo rôto.
Vai daí chamam a bófia
Que tempo leva a chegar
E o man meio assustado
Não pára de reclamar
Que está pr’ali a sofrer
E ninguém para acudir
Já passaram dez minutos
O sangue vai-se esvair
O guarda chega e olha
E farta-se até de rir:
- Tás a ver se vais de folga. Tu vai mas é bolir!
Beijo, juízo e tudo de bom!
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Lindas?!
Espreitei na Quinha, só pra dar um alô e um dedo de conversa. É o cabeleireiro mais fashion cá do lugar, aliás é o único. A Quinha é uma angolana muito bem disposta que penteia, colora, despenteia, descolora, madeixa, trança, tissa, destissa, consoante a vontade e a disposição da freguesa. Sempre que lá passo fico ainda com mais certeza de que nunca serei "uma senhora de jeito", como diria a minha avó Dlim-Dlim.
Sentadas, entre Caras e Luxes, com rolos ou papelotes, cada mão enfiada numa tigela plástica muito pinki com cinco buracos para cinco dedos, os pés demolhados num alguidar que borbulha sem parar, uma escova que repucha uma melena mais difícil, a pinça que arranca pelo a pelo a uma já tão fina sobrancelha, o secador barulhento que abafa a kizombada. Elas ficam lindas, é verdade, mas fazem cá umas figuras...
Quase tenho medo daquilo tudo. E respeito. Não vá um dia destes quando lá fôr pedir pente quatro sem brusching, sem plix, sem côr, sem madeixas, sem nada além do corte puro e simples, elas deixarem descair a máquina e darem-me uma zerada para não me armar em gozona.
sábado, 27 de outubro de 2007
Bazar por aí ...
Fui arranjando umas artimanhas e lá me safo de quando em vez. Para estar comigo, eu e eu e juntas pensarmos na vida e gozarmos uns momentos de sossegado prazer. Foi assim que fui descobrindo praias e lugares por aí perto, daqui ou de lá, por forma a que as ausências não tenham que ser fugidas.
Tem vezes basta um pequeno-almoço à babuja da Adraga para carregar baterias mas tem outras que só isso é Água das Pedras. Então subimos serra acima pra lá da Peninha, despedimo-nos da lua em dunas vicentinas ou ouvimos o silêncio na penumbra de cedros que resmalham baixinho.
Nem sempre as neuras se vão nestas andanças. Mas sempre se desamarrotam.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
barIMbar
Eramos todos jovens, alegres, giros e cheios de vontade de mudar o mundo.
Aqueles meses de colagens de cartazes Algarve fora sempre à boleia, de longas noitadas de cantigas e conversas, de promessas de amor eternas, do soalho a ranger sob os nossos pés descalços lá na casa em frente à igreja, das orelhas furadas com agulha e pedras de gelo, da sangria e do Português Suave sem filtro, da cesta das compras da Lena e do seu mau feitio, do colete do Sim-Sim, das maluqueiras do Dário, da simpatia do Pedro da porta (http://www.afinador.blogspot.com/) , das camas desfeitas de ninguém, da chegada do postal do pai do Mário "Há Barimbar, há ir e há voltar", das fotografias a preto e branco reveladas numa casa de banho da Reboleira, dos vestidos indianos e dos cabelos e brincos ao vento, dos beijos nos lábios dos muito amigos, das saladas coloridas, da Renault 4L cor-de-laranja com muitos ao molhe lá dentro, dos desenhos nas mesas, dos jantares no Vila, das partidas de comboio e das lágrimas e abraços nas despedidas, fará sempre parte das boas coisas que nos aconteceram.
Para muitos de nós foi o ano de viragem. Das primeiras férias à solta, da entrada para a universidade, da profissionalização na música, da saída de casa dos pais para quem não era da cidade grande. No CascaisJazz logo a seguir combinámos todos no Estoril. Em cada estação entravam mais uns quantos. Foi uma festa. Depois os encontros foram rareando e o acaso foi-nos cruzando em Festas do Avante, no Hot Club, em espectáculos mais jazzísticos, nos anos do Paleka, por aí.
Vamos tendo notícias uns dos outros por uns e outros e é fixe sentir que apesar de já estarmos todos cotas, com uns quilos a mais ou muitos cabelos a menos, continuamos a lutar por sonhos há muito desenhados.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Mundo mix
- Hei, tu comes mancarra (amendoim)?
- Como. Queres?
- E não te enjoa doce de côco, pois não?
- Não. Queres alcagoitas?
- Tu deves ser de Cabo Verde.
- Não, sou tuga, mas lá do Algarve.
- É mentira. Comes mancarra, fazes cachupa, mandas bocas em crioulo...
- Não eu sou mesmo de cá. Tuga, tuga.
- Deves ser da Guiné - arrisca o Délcio.
- Eu nasci lá no Algarve e depois vim pra cá e pronto.
- Tás a mentir, não tás?
- Olha lá bem pra mim, de que côr é que eu sou? - não é que isso signifique alguma coisa. Mas aí a minha rosácea de estimação traiu-me.
- És vermelha. - diz o Luís
- Aí, a São é d' América, é pele vermelha!
A Gália e eu conhecemo-nos há vários anos, nas escadas do prédio onde morávamos. Ficámos amigas. É moldava, toca maravilhosamente violino e ensina meninos a tocar e, principalmente, a gostar muito de música. Dizia-me ela:
- Padruska (amiga), acho tu não és bem portuguesa.
- Ai é?
- Ontem eu te perguntei a que horas almoçavas e tu me respondestes que nem sabias, que era quando desse jeito ou quando a malta tivesse fome.
- E isso é não ser portuguesa?
- Isso é ser um bocadinho russa. Os portugueses sempre têm hora muito certa para tomar as suas comidas.
São bocadinhos de vocês que guardo no coração. Beijos gordos.
sábado, 13 de outubro de 2007
Contar parte
Gostava de agradar Fatuxa, filha codé (mais nova), única em casa cuidando. Embarrigara de Fatuxa já mulher partida pra velha e tivera choro grande de desgosto. Vergonha de mulher parida avó de netos homens feitos.
Nasceu de olho aberto e goela escancarada a cachopa. Havera de ser mulher pra vida dissera doutora que a trouxe pro mundo. E era. Professora diplomada, dessas de ensinar a ler e a escrever criança pequena e grandes também.
Até mamã já assinava o nome e lia cartas chegadas do lá longe. Mas o estado nunca mais mandava postal dizendo que tinha escola pra ela ensinar meninos. Então ela ia no shopping e ganhava arrumando tabuleiro de comida. Depois voltava e nha Nézinha lá estava, sentada, contando parte. Fatuxa ia só num instante comer bucha e trazer viola. Encostava na perna da mãe e tocava as mornas mais choradas do bairro.
Um dia, nha Nézinha não acordou mais. Fatuxa fez a trouxa, pegou na viola e foi pro lá longe. Era quase Fevereiro. Lá no Namibe ela foi ensinar. E contar bué parte também.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Porquê o meu silêncio?
Durante anos foi assim. Outonos, Invernos e Primaveras. No Verão as férias levavam-nos para lá dos muros da escola e perdia-nos e perdiamos-lhe os rastos.
Nunca aprendeu a ler ou a escrever, a jogar à rabia ou a saltar ao eixo. Contava estórias que achávamos estranhas mas quase sempre o ouviamos. Nem sempre com carinho, vezes com pontas de troça ou de desdém. Era um mundo de ilusão numa cabeça que se recusava a crescer, pensava eu.
Passaram muitos anos. Li num jornal. Pedofilia. Não era ele quem lá estava, mas todos eles tinham o seu rosto. Parece o ouvia contar, sentado no banco ao lado do portão da escola velha. A voz fanhosa enaltecendo as tropelias noite fora Praia da Batata dentro. Chamava-lhes chapagem. Ria-se. Falava em dinheiro e em roupa nova oferecida por cámones panascas. E fazia "Schschiu!!" pra não contarmos a ninguém
Afinal devia ser tudo verdade. E eu devia ter falado.
Bem alto!
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
A caminho dos treinos
"E vais-me deixar aqui na rua, de noite, sózinha e a chover?"
No percurso falamos de tudo e cantamos quase tudo o que sabemos. Distribuem queixas e tecem elogios às professoras e aos trabalhos de casa ainda por fazer, desenham e decidem tácticas de jogo, preveem vitórias com grandes cabazadas e arremessam perguntas em catapulta sobre tudo e sobre todos. Muitas são autênticas pérolas.
Debaixo do viaduto do SATU abriu uma churrasqueira de nome "Brasinha". Novidade no burgo. Dúvida na cabeça dos marmanjos.
- O que é que é uma brasinha?
- Aí meu, quem não sabe?...
- Eu não sei e não sou parvo. Tu sabes?
- Claro, é uma miúda assim toda jeitosa, boa...
- Ah... Atão é o mesmo que grossa...
- É pá és mesmo atrasado. Grossa é muito melhor que brasa.
- A Mi quando fôr grande vai ser grossa e brasa, não é Mi?
- Deves ser é parvo. Eu quando fôr grande vou ser é uma Mantorras.
sábado, 1 de setembro de 2007
Há feira em Bensafrim!
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Banho 29
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Ti Agostinho
Numa dessas quase madrugadas, por sinal enevoada, o Ti Agostinho, aproximou-se pra me dar os bons-dias e uns poucos de dedos de conversa.
O Ti Agostinho gosta de dizer que já fez nove dezenas há pra cima de cem meses e, que tem idade própria pra pensar e dizer tudo o que pensa. À noite costuma sentar-se no poial da porta e ler os recados das estrelas sobre o que diz respeito à lavoura e à prenhice do gado. Quando tem parceiro toca harmónica e canta ao desafio aquelas modas malandrecas costumeiras do barrocal algarvio onde viveu toda a vida, até decidir, por vontade e pé próprio mudar-se pró lar por si escolhido.
Falou-me do bom que é a brandura matinal para o amadurecimento dos figos, dos calos que lhe atormentam os pés, dos chatos que são alguns "velhos" lá do lar, da simpatia das funcionárias, do conforto das camionetas da carreira de hoje em dia, da carestia das contribuições, ...
Um comparsa passou e reclamou a sua presença para um joguinho de bisca lambida. Levantou-se e despedimo-nos. Já lá ia mas voltou. Mirou-me e remirou-me. Deu uma voltinha à cadeira onde me sentava. E outra ainda no sentido inverso. Pôs-me então a mão no ombro e pesaroso:
"- Conceiçanita, vomecê tá tã gorda. Velha. E feia."
Fez uma pausa. E, de novo:
"- Velha. Gorda. E feia! E era tã jeitosita..."
sábado, 25 de agosto de 2007
Sôdade de nos terra...
Para alguns deles foi a primeira saída de casa, para longe da família e do Bairro da Outurela.
Pessoalmente fiquei muito feliz por os "nossos putos" puderem ir passar uns dias divertidos à minha terra natal e, enquanto não desci até lá não descansei.
Entre jogos e idas à praia ainda deu para brincar nos insufláveis e ir até ao Zoo de Barão de São João.
É um espaço onde se sente que os animais são felizes e muito bem tratados. Os miúdos deliraram com os macacos, a passarada, a ceifeira debulhadora e também no parque infantil e nos jogos de cartas disputados nas mesas da zona de merendas.
Durante este saltitar percebi que um olhar sempre os seguia. Uma mulher jovem ainda, mestiça, zeladora da limpeza do lugar, ia deslizando um olhar furtivo e húmido na peugada dos rapazolas. Sorria ao seu sorriso e às suas graçolas e aproximava-se o mais possível para escutar as aventuras relatadas em crioulo de "badio" que nunca pisou chão caboverdeano.
A dada altura não resisti e abordei-a:
"- Você é de Cabo Verde, não é?
- É.
- E deixou filho na terra ...
- Foi..."
Lia-se nos seus olhos a "sôdade" de lá e de quem lhe rompeu do ventre.
"- Venha mamã, lanche connosco!"
Puxaram-na, abraçaram-na, quiseram tirar fotografias todos à sua roda.
Natalina falou-nos da recente vinda, da luta diária, do sonho quase a concretizar de mandar vir o único filho e da alegria de, pela primeira vez em terras lusas se ter sentido perto de casa, ali, naquela tarde solarenga, com os putos da Assomada, numa alegria contagiante, a crioular graças e desgraças da sua vida de campeões de jogos de escondidas e apanhadas.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Minha querida Lila!
E, nessa época, há mais de quarenta anos já ela era, digamos, especial.
Usava minis muito minis, que arregaçava quando subia para uma mesinha de madeira onde gostava de dançar yé-yé, ao som beatleano que saia dum gira-discos plástico em azul turquesa.
Na cidade de província em que viviamos a Lila era do mais moderno e ousado que por lá se tinha imaginado. Era a cor no meio dos vários tons de cinzento, a sua gargalhada fácil distinguia-se pela praia fora e encantava a criançada das redondezas nos preparos para os anuais concursos de construções na areia organizado pelo DN ou, quando no final do Verão festejava o seu aniversário, com enormes salames de chocolate e jarros e jarros de limonada.
A Lila era a tia que todos quisemos nossa.
Já passou dos 60 mas a gargalhada fácil e a excentricidade mantêm-se. As saias, agora negras, roçam o chão, o eye liner continua a alongar-lhe os olhos e só da sua boca saiem verdades tão verdadeiras que vindas da boca de quaisquer outros seriam ofensa.
Sempre lidou muito bem com os assuntos da morte. Tão bem que há um tempo atrás resolveu comprar um talhão de terra no cemitério municipal. A pensar no futuro, contava-me ela. Só que houve quem na família se apressasse para o lado de lá e ela quiz ter o prazer de de lhe ceder a vaga.
Numa recente ida ao cemitério por ocasião de um funeral, reparei que o tal talhão se encontrava demasiado enfeitado de marmoreadas obras de arte sacra. Estranhei, uma vez que o infeliz ocupante não era dado a tais preparos e muito menos a tão elevados gastos.
Quando comentei o meu espanto com Lila, ela respondeu-me com toda a queitura que a caracteriza:
"- Eu é que escolhi a decoração e os santos. A terra é minha. Ele é só meu convidado!"
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Amor à espera ...
Falou baixito, contemplativa, enquanto juntas e de mãos dadas mirávamos os miúdos, que na parte baixa do jardim corriam sobre andas e rolavam relva abaixo.
"Num é? Elas todas já têm homem..."
Passo-lhe o braço sobre os ombros.
"É... "
Trinquei o lábio e cerrei muito os punhos. Como eu tão bem sei o quanto lhe menti.
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Diga porra qu'alivia!
Não que seja apologista que se ande a distribui-los a torto e a direito, mas existem ocasiões em que são quase mesmo imprescindíveis, como expressão de raiva, de cólera, de surpresa, de desespero, até de alegria.
Conheço gente tão contida que em dezenas de anos nunca lhes ouvi uma palavra fora do sítio. Nem um "Com a breca!". Pode ser um grande disparate mas acredito que são menos felizes por isso. Não é plo mandar alguém à merda que se é mais ou menos feliz mas pelo soltar das emoções, pelo chorar de tristeza na perda de quem se ama, pelo gargalhar dum qualquer disparate, pelo barafustar quando se foi mal atendido.
Este assunto lembra-me sempre uma história passada num almoço de Natal. O Rosendo é o único ascendente masculino que me resta. É meu tio materno, bem disposto e excelente cozinheiro. Surpreende-nos em cada Natal com um novo petisco no centro da mesa e faz questão que seja eu, a sua única sobrinha, a servir a famelga toda. Há uns natais atrás, estávamos nós a iniciar este preparo, já com os ilustres comensais salivando pela surpresa quando, ao detapar o imenso tabuleiro, soltei um ai de dôr. Tinha-me queimado. O Rosendo, acabadinho de sentar ao lado do seu mais que querido cunhado, piscou-me o olho e disse:
- Diga porra filha, diga porra que alivia!
Eu disse. Acho que aliviou. Foi gargalhada geral.
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Parabéns mana preta!
O dia amanheceu chuviscoso.
Dum pátio no Bairro do Alto da Loba, saía a procissão em honra da N. Sra das Graças, à maneira da cidade da Praia.
Os cetins contrastavam com o colorido dos poucos panos africanos enrolados à cinta das mais idosas. As comadres abraçavam-se perguntando novas dos afilhados. A cruz de madeira, rústica e genuína abria caminho bairro adentro e nós, subimos e descemos ruas acompanhando a procissão no seu lento progredir.
A chuva continuava a salpicar e, baixinho, quase em susurro, mas passo a passo, ouvia-se alguéns dizerem: "É chuva abençoada, como em nos terra".
Senti o quão bem vinda estava a ser aquela água, como se trouxesse um poucochinho do lá longe, de quem bem lhes quer lá no meio do oceano.
Saimos dali de alma cheia, não foi mana?
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Já sou grande?
No nosso bairro todas as casas têm quintal. Hoje caiei o meu. Os miúdos divertiram-se bué, a mangueira lavou chão, plantas, pés e alma, o Carlos Paredes tocou só pra mim, muito alto, e as cortinas, brancas e leves esvoaçaram janelas afora .
Esta noite acenderei uma vela. Ou melhor duas velas. Uma na chaminé e outra no meu coração.
domingo, 12 de agosto de 2007
Quando eu fôr grande
"Quando eu fôr grande não vou ser muito grande porque vou continuar a fazer coisas de pessoa pequena. Vou brincar e dizer graças como o meu pai e, se calhar, vou ter cabelos um bocadinho brancos como a minha mãe.
Vou ter um trabalho e vou ter uma casa com quintal. Acho que vou ter filhos e que eles também vão ser alegres e diabretes.
Vou tocar e cantar músicas bonitas, vou abrir as janelas todas da minha casa, pôr um lenço na cabeça amarrado atrás e vou caiar o quintal. Os meus filhos vão regar as plantas com água fresca da mangueira de borracha.
Vai ser uma festa. Eu ainda não sei bem se é bom ser uma pessoa grande."