"Deve de ser bom saber que se tem um amor há espera..."
Falou baixito, contemplativa, enquanto juntas e de mãos dadas mirávamos os miúdos, que na parte baixa do jardim corriam sobre andas e rolavam relva abaixo.
O amor dela partiu há muito em busca de vida melhor, acreditando em promessas que nunca saberemos se se concretizaram. Ela ficou na espera, criando os seis filhos que "Deus já tinha dado". Lavou escadas, fez pastel pra fora, chorou , prometeu e cumpriu idas e vindas a santuário rezando pela volta, amou filhos e cria netos, comendo quantas vezes o pão que o dito amassa.
Nunca quiz voltar a acreditar nos homens nem nas suas promessas de amor. O tempo trouxe reforma e levou filhos para lá longe, trouxe inchaço nas pernas e névoa nos olhos. Entre as minhas mãos sinto o calo grosso de trabalho e as artroses dolorosas que quem passou a vida com as mãos na água dos outros.
"Com as minhas mininas vai ser diferente. Vão ter um amor à espera..."
Não respondo nada. Finjo nem ouvir. Ela insiste.
"Num é? Elas todas já têm homem..."
Passo-lhe o braço sobre os ombros.
"É... "
Trinquei o lábio e cerrei muito os punhos. Como eu tão bem sei o quanto lhe menti.
Sem comentários:
Enviar um comentário