Para alguns deles foi a primeira saída de casa, para longe da família e do Bairro da Outurela.
Pessoalmente fiquei muito feliz por os "nossos putos" puderem ir passar uns dias divertidos à minha terra natal e, enquanto não desci até lá não descansei.
Entre jogos e idas à praia ainda deu para brincar nos insufláveis e ir até ao Zoo de Barão de São João.
É um espaço onde se sente que os animais são felizes e muito bem tratados. Os miúdos deliraram com os macacos, a passarada, a ceifeira debulhadora e também no parque infantil e nos jogos de cartas disputados nas mesas da zona de merendas.
Durante este saltitar percebi que um olhar sempre os seguia. Uma mulher jovem ainda, mestiça, zeladora da limpeza do lugar, ia deslizando um olhar furtivo e húmido na peugada dos rapazolas. Sorria ao seu sorriso e às suas graçolas e aproximava-se o mais possível para escutar as aventuras relatadas em crioulo de "badio" que nunca pisou chão caboverdeano.
A dada altura não resisti e abordei-a:
"- Você é de Cabo Verde, não é?
- É.
- E deixou filho na terra ...
- Foi..."
Lia-se nos seus olhos a "sôdade" de lá e de quem lhe rompeu do ventre.
"- Venha mamã, lanche connosco!"
Puxaram-na, abraçaram-na, quiseram tirar fotografias todos à sua roda.
Natalina falou-nos da recente vinda, da luta diária, do sonho quase a concretizar de mandar vir o único filho e da alegria de, pela primeira vez em terras lusas se ter sentido perto de casa, ali, naquela tarde solarenga, com os putos da Assomada, numa alegria contagiante, a crioular graças e desgraças da sua vida de campeões de jogos de escondidas e apanhadas.
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