A feira de Bensafrim representa o quase fim de férias, o regresso às escolas e ao trabalho, o deitar e acordar a horas ditas decentes e também as passeatas Serra de Sintra adentro, o vai vem dos treinos de basquete e de andebol, o despe e veste das piscinas, os acampamentos de escuteiros, as reuniões de pais, as cachupadas, os ensaios, ... mas tudo isto só acontece lá pra depois da feira de Bensafrim passar.
É por lá que se anda em banheiras a motor e em motoserras aceleras, se aplaude cavaleiros e amazonas mais ou menos artistas, se come o melhor doce de figo do concelho de Lagos e, principalmente se encontram os velhos amigos dos tempos de escola e se ouvem as estórias dos mais velhos.
O Ti Juanito Chula é um amigo que já não é porque os torrões já lhe fazem algum peso. Conhecemo-nos no Lar de Misericórdia, long time ago. Gostávamos um do outro como os avós gostam dos netos e os netos dos avós. Quando chegava a Lagos mandava-lhe recado pra irmos beber um sumolzito e pôr a conversa em dia.
O Ti João era nascido e criado no Vale de Bensafrim e aí tinha sofrido gostos e desgostos, perdas e geadas, anos e amores. Às vezes falava de como o vale tinha sido próspero, das cheias da ribeira, da chegada dos cámones às Colinas Verdes, da esperança de desenvolvimento a quando da abertura do restaurante do João da Gruta, mas animava-se era quando chegava o fim d'Agosto e era o dia da festa.
Trazia-me sempre as "feiras": um saquinho de figos secos ou de amêndoas, uma quadra de manjerico, um caneco de barro. No seu último ano trouxe-me um "rajá". Um supermax fresquinho, comprado pela manhã, embrulhado no papel pardo da mercearia do Zé d'Almeida e passeado todo o dia na algibeira do Ti João, foi certamente o que ele, que nunca pôs nada frio no bucho, sentiu que mais prazer me traria. E acertou!
3 comentários:
Olá São Branca
Prometo-te que quando escreveres um livro, o mesmo será tão bem guardado quanto o lejadinho fresquinho que em tempos recebeste. O teu livro, que espero me ofereças, será um dos melhores presentes que já me ofereceram.
Com amor,
Delphis
Olá menina, sacoleja essas estórias de encontros e re-encontros da vida e da memória de um Algarve que já não é o mesmo de há 40as, mas precisa de ser relembrado no que tem de melhor. Beijinhos do Pai Natal, agora a banhos no Algarve
Parabéns pelo "Vidas à solta".
Chegámos aqui por acaso, mas do visto fica a promessa de voltarmos mais vezes e de linkarmos assim que possível na nossa Mesa Redonda.
Melhores cumprimentos desde Lagos.
Manuel Tiago
Enviar um comentário