Por mais vezes que se fale da primeira vez, jamais alguma primeira vez perde o sabor da novidade e o arrepiozinho do desconhecido.
É o primeiro dia de escola com tantos novos amigos, a professora, boa ou má que nunca vamos esquecer e aqueles recantos de recreio que se vão tornar a nossa casa;
O primeiro amor, que brilha mais que a estrela mais brilhante que agora vislumbro pela janela escancarada ;
A perda do carrinho mais veloz que se acidentou escadas abaixo, a mancha de tinta verde no vestido preferido, o primeiro dente de leite a abanar, o nosso nome escrito em letra de mão e sem ajuda no caderno diário, as manhãs as tardes e as noites que passam a ser tantas horas e tantos minutos, lidos a custo num mostrador de relógio, a bicicleta que finalmente deixou de tombar e aquele miúdo parvo que não nos sai da ideia.
A descoberta do próprio corpo, o prazer e a dor da paixão, a primeira saída à noite com os amigos, de cigarro e cerveja em punho, ainda com horas de voltar mas com chave de casa no bolso, o calor do desejo e a pressa de o calar.
Ir de férias sem escolta, tirar a carta, subir saias e descer decotes à medida da moda e dos desejos de cada dia, ganhar a vida, descer a rua de saltos altos, despedir o acne, votar, atravessar o Tejo de cacilheiro, negociar o aumento de salário, jantar à luz de velas, dar sangue, dormir ao luar, separar o lixo, fazer greve, usar óculos, adormecer no comboio, ir à Meca sonhada ou simplesmente pintar as unhas das mãos.
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