segunda-feira, 1 de junho de 2009

gente pequena

Dizia o poeta, que acho nem era muito chegado à gaiatada, que o melhor do mundo são as crianças. É. E bom mesmo é aquele bocadinho de gente pequena que vamos mantendo de saúde mesmo quando já somos gente grande. Aquele lado do disparate, dalguma inocência, de ter um gozo do caraças ao chupar um gelado de gelo ou ao inventar aquelas estórias fantásticas que viram vida de verdade.

Cresci filha única e fui ganhando irmãos com o correr dos anos. Coisas de coração. Além dos meus três rapazes há sempre um corropio de miúdos lá por casa e sobrelotando a carrinha, falando uns mais alto do que os outros num frenesim de quem tanto tem para contar que nem quer saber se é ou não ouvido.

Tropeçam em berlindes e em palavras, apertam-se em
abraços e em lutas, zangam-se, fazem cara feia e as pazes, dão mais abraços e prometem paz para o sempre que é já dali a bocado .

Vamos de barco até Almada para ver o Cristo-Rei bater as palmas, mas sempre chegamos depois da hora. Pelo caminho aproveitamos para contar alegrias, medos e truques de escrever cartas de amor em código, com sumo de limão e deitá-las na Praia de Santo Amaro ao cair da noite da próxima lua cheia.

Falamos de coisas sérias e obrigações. Pedimos humildade, educação, trabalho na escola e no pavilhão, respeito pelo próximo, cumprimento de regras e mais aquelas cenas todas que até nós sabemos são peso demais para quem ainda acredita que o mundo é lindo, ridondo e de todas as cores.

Ontem, no palco grande das Festas do Concelho de Oeiras, os miúdos do Centro Comunitário do Alto da Loba encheram-nos o coração. Crianças de diferentes nacionalidades apresentaram danças tradicionais dos vários países de origem. Africanos bailando e falando russo, brasileiros dançando o luso regadinho, moldavos rebolando num funaná a preceito e todos juntos, sambando, cantando, de mãos dadas pela amizade imensa que os une.

Às vezes, no fim do dia, não nos sobra quase nada mas acho já não seríamos capazes de viver longe desta algazarra, né mana? Eu chamo-lhe tempero. Tu chamas terapia. Há quem chame loucura ...

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