A esta hora já o Rafa pisa terras de Moçambique e só lhe faltam dois dias para abraçar a família lá no Inhambane natal. Os corações dos que ficaram estão ainda mais apertados do que é costume. É um misto de tristeza, de alegria, de inveja, de ansiedade e de pressa de afogar saudade.
O Rafa, o Nilton, a Zé, a Edviges e tantos outros jovens chegam do lá longe para estudar em Portugal, onde julgam vir encontrar o quase paraíso. A serpente da burocracia e a cegueira dos homens atraiçoam-nos a mais das vezes. O ano lectivo há muito começou quando aterram em Lisboa, a bolsa tem vezes não chega quando devia, o frio aperta e o agasalho e o calor da família faltam, sentam-se à mesa de ninguém e ninguém pergunta como vão. Quase muito é diferente, novo e desconhecido. É sempre muito difícil não desistir do sonho que os trouxe: voltar à terra com um curso superior concluido.
Vimo-los partir levando esperança, saber e vontade de participar na construção dos seus países. Os que ficam, fortalecem a crença de que também eles vão ser capazes e que o tempo vai quase voar até à hora do embarque final.
Infelizmente muitos ficam pelo caminho e não voltam no breve programado. Acabam ficando por cá, em empregos voláteis, acreditando que estão de passagem numa terra que sabem será a dos seus filhos.
Voarás alto, lá longe.
Por cá ficarás sempre nos nossos corações.
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