Parece o frio me trouxe desejo de desejar. Costuma trazer desejo de manta quente, de ronha de não escutar despertador a gritar "alvorada", de saudade e de aperto assim apertado no peito que vai subindo e fica logo abaixo da goela, a não querer deixar passar o que vem de cima.
Não é desejo de desejar embrulhos de papel bonito e laçarote reluzente. Nem desejo de faz de conta darmos todos as mãos e sermos todos amigos. Nem desejo de pegar numa agulha e coser o buraco de ozono com pontos muito muito apertadinhos.
É desejo de mim.
Parece o frio me vem lembrar do querer ser mulher.
Velas acesas sobre linho crú. Flores? Brancas. À velocidade duma brisa suave, entrefecho os olhos e desejo sopro quente de vida. Afago. Palavras. Silêncios.
Tenho frio.
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