sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

As primas Marias

Tem dias assim. nostalgia pura.

Adormeço e acordo ao som daquele mar forte de sul que entra pelo molhe da Solaria, põe as gaivotas loucas, os pescadores em terra e me deixa de alma lavada;

Por caminhos e carreiros, entre urze, estevas e giestas, lá fomos, de prima em prima, revivendo velhas estórias, cheiros, caras e sabores. Todas nos setenta, todas viúvas, todas sós e cheias de vida em ermos perdidos na serra algarvia. Sob a nevrinha colhemos laranjas, poejos e rosmaninho. Ao calor da braseira falaram da grandeza dos martuzes com mel no combate à tosse, da água que se deve beber morna para evitar males na veia d´urina, dos filhos, dos netos e dos bisnetos que as visitam mas que não desejam nas lidas da terra nem dos cortiços, querem-nos lá em baixo, no Algarve, onde há hoteis, turistas, trabalho limpo , não se acorda ao nascer do sol nem se recolhe ao piar do mocho.

São tão bonitas as primas. Morenas e enrugadas por décadas de sol, despachadas e trabalhadeiras, cabelos alvos cobertos por lenço negro e chapéu de palha debruado a fita escura, de olhos muito brilhantes e sorriso aberto. Sábias e adivinhadoras de sonhos. Abraçam com fervor e cantam com doçura.

Encantam-me sempre. Comovem-me também.

Isabel volta depressa. vamos até lá cima,aos Gregórios, que a prima Maria José sabe dum chá de alecrim que afoga até as tristezas desenganadas.

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