O meu Zé está quase nos dezasseis anos. É um dos treze filhos macho nascidos dum casal de são tomenses. Acha que não é muito dado às letras mas faz oitos com os números. "Grandes e piquinotes". Lê bonito. Dá asas e vida às palavras. Escreve como fala. E só fala "bodega". Fala "dáma" e esquece a menina que não é bela mas "tão biuti" que é até "fatela" no mc trabalhar em vez de desfilar. Mas isso é som que sai da boca do Zé porque na expressão, no sorriso, no brilho do olho ele fala poesia e a "dáma" que de lá solta é, no mínimo, a Cinderela.
Nunca falta ao apoio e nunca faz os trabalhos de casa. Não falta porque "o convívio é bom" e não faz os trabalhos porque eram de ontem e o Artur, que é o irmão mais velho, diz que eles têm que estudar pra serem homens de amanhã.
Tem alturas apetece explodir, ralhar e mandar escrever cinquenta vezes as mesmas palavras e resolver umas trinta equações. Mas sempre fraquejo. Eu e as professoras todas, já percebi. Ele sempre tem positiva e sempre passa de ano. A sua explicação para a proeza faz todo o sentido: "As proféssoras gostam de crianças éducadas e eu sou uma criança muito éducada..."
Depois do "convívio" dá-me um abraço demorado e tão apertado que parece até o coração muda de peito.
Quase me apetece desejar que chumbe pra ficar com ele mais um ano.
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