Brigamos e fizemos as pazes vezes sem conta, ganhámos e perdemos contratos Páscoa sim Páscoa não, jogámos berlindes e ao mata, às estátuas, ao pisa e à verdade e consequência. Aprendi a tocar na guitarra que os pais lhe trouxeram de Espanha e começou a gostar de ler com a "Crónica dos bons malandros" que recebi de presente. Trocámos almanaques, cromos e as confidências dos primeiros amores, ouvimos os discos e as cassettes todas da moda e até os pirosos, chorámos desilusões no ombro um do outro, trouxe-lhe areia, água do mar e amigos quando a hepatite o prendeu em casa e ele contou-me a vida da rua quando a febre reumática me arrastou pra cama.
Foi com ele que os meus pais me deixaram sair à noite as primeiras vezes, juntos fomos aos festivais da cerveja de Silves e aos concertos do Parque das Freiras, foi o DJ que pôs a malta a dançar no velho Charlie Chilly da Aquazul e nas matinés do Ping-Pong, sempre me lembrando quando chegava a hora de recolher.
Vibrou quando me nasceu o primeiro filho. O Chiado ardia na televisão da sala dos meus pais quando bateu na janela e entrou casa adentro, naquele seu jeito meio desajeitado. Tirou o Lopo do berço e aconchegou-o ao peito, falando-lhe baixinho, naquele voz de falsete que lhe era tão característica.
Era Verão. A minha mãe passou a manhã a entrar e a sair. O meu pai estava triste e mudo. O almoço ficou na mesa. Até no café da esquina reinava o silêncio. Estava calor. Muito calor. Nunca lembrei quem trouxe a má nova. Parecia um eco. O Paulo morreu num acidente, ...dente, ...dente...
Já não fujo dos pais do Paulo nem finjo que não tenho saudades, faço é sempre de conta que foi de viagem e um dia destes ainda aparece por aí.
3 comentários:
O Paulo Pargana...
Também tenho saudades, apesar de o ter conhecido muito mais tarde. Pus música com ele muitas noites no Zapata e no Phoenix,fiz com ele e com o Kuka o Borda d'água, aos sábados, na extinta rádio Barlavento.
Estava em Coimbra quando, meses depois, o Kuka me comunicou a notícia. Lembro-me do choque, lembro-me de muitas coisas, lembro-me muito dele, do Paulo Pargana.
COMEÇOU NO CICLO, PASSAMOS PARA A SECUNDARIA E CONTINUOU...CÃO E GATO...SEMPRE BRINCADO E BRIGANDO!
É UM AMIGO!
eu trabalhava com ele no zapata quando teve o acidente :(
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