Será que a adolescência é mesmo um mal necessário? Quer dizer, a dos outros, porque a nossa foi mesmo imprescíndivel. Não fosse ela e a nossa mãe teria ficado convencida para o resto da vida que eramos assim uns desenchaibidos duns pãezinhos sem sal e sempre na dúvida a quem afinal é que tinhamos saído. Com certeza não era a ela que sempre fora jovem de dar trabalho aos nossos avós. Tudo por amor, porque não fora isso e a vida deles teria sido uma rotina do caraças numa idade em que ainda tinham energia para esbracejar, gritar, teimar e, na teoria deles, em caso de necessidade até lhe dar um bom par de estalos. Quer dizer, não foi só por amor à mãe e pelo desenvolvimento da sua capacidade de argumentação que nos armámos em parvos e em xicos espertos ocupadíssimos em praticamente todas as noites de sextas, sábados e domingos e mais nas outras de segunda a sexta em que tínhamos um monte de compromissos inadiáveis com os nossos amigos ou com os amores das nossas vidas. Também foi por amor ao pai. E como forma de estímulo ao diálogo entre eles os dois. Assim sempre tinham motivo de conversa e, palavra puxa palavra lá se entusiasmavam, enrolavam-se um no outro e nem davam conta da nossa hora de chegada. Isto não se chama dar a volta, chama-se amor ao próximo, que é uma cena muito à frente, para quem, como dizem os pais só vê o seu próprio umbigo e mais o corpo todo da paixão de cada dia.
- Dá para de vez em quando vocês fingirem que já são gente grande?
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