sexta-feira, 24 de outubro de 2008

por aí ...


José Peixoto e Filipa Pais em "Dia da Tentação"

Quero tanto sem nada querer.
Desconheço o que desejo mas anseio a sua inesperada chegada.
Sem dia, sem hora e sem lugar marcados.
Se calhar, nunca chegará. Ou já passou, até, e nem dei por isso.
Deixei ir num sopro dum faz de conta que não era. E foi.
Tantas horas estou sem estar.
Ausente do mundo, voando em delírios que quase são verdades absolutas.
As minhas verdades. Ou será loucura?
Bem vindo é quem acreditar que o sonho, já dizia o poeta, comanda a vida.
À velocidade dum piscar de olhos tudo muda.
Acordar? Não sei se quero ...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Querida televisão?

Já lá vão uma meia dúzia de meses que a televisão aqui de casa pifou. Fomos vivendo sem ela. Bem. Muito bem mesmo, achava eu. Conversávamos mais, deitávamo-nos mais cedo, partilhávamos os afazeres e, principalmente, ouvia-se muito mais música e lia-se pra lá do dobro.

Muita gente amiga teve intenção de oferecer uma televisão mas consegui ir explicando que estávamos bem assim e que no Inverno logo se veria e tal e coiso e pardais aos ninhos a malta ia achando estranho mas encaixando, até porque quando passavam por cá até sentiam que sim senhor até era uma boa opção.

Quando havia assim um desafio de futebol, daqueles que aqui a rapaziada e até eu achávamos imperdível, lá iamos jantar uns grelhados a uma daquelas tascas que têm sempre o bendito aparelho ligado à hora das refeições. Do que eu sempre reclamei, aliás, mas que agora dava imenso jeito. E depois tinham sempre os fins-de-semana e férias em Lagos, na casa da avó, para se encherem de eurosport e national geographic.

A avó, essa mesmo, é que nunca mais dormiu descansada porque isto da televisão faz muita falta numa casa e porque toma e porque deixa e que não faz sentido nenhum viver desinformado e porque estão sempre a dar programas que até eu havia de gostar quanto mais as crianças e ... por aí fora.

Hoje, logo logo de manhãzinha, dois desconhecidos entraram-me pela porta com um enorme pacote postal proveniente de Lagos. Deve ter entrado nalguma loja e não resistiu à tentação. Só faltou embrulhá-la em papel de seda com um belo dum laçarote de fita metalizada.

Quatro pares de olhos esbugalharam. As respectivas bocas escancararam de pasmo. Estão lá, como que hipnotizados, sentados no sofá, repetindo: "Que fixe!"

Não gostei. A tal mal chegou e já a sinto a mais.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008



Sempre defendi que não são os laços do sangue que fazem o parentesco, mas os do coração e da inteligência. Dói igual seja ou não sangue do nosso sangue que sangue nos faz, que feridas abre, que nos desilude. É sempre dia de festa quando um dos nossos alcança o desejado, marca aquele golo, é bem surpreendido pela vida ou o tecto não lhe cai em cima.

Devo muito às tantas pessoas diferentes que têm passado pela minha vida e que me foram deixando bocadinhos de si. Essa é a família que se foi construindo, ano após ano, fruto da amizade, da tolerância, da entreajuda e também da mutua crítica e quantas vezes da discórdia com acordo à vista.

Desejo muito do que ainda não fiz.
Continuo a acreditar que este é o caminho.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Marés


Led Zeppelin, "Stairway to heaven"

Tem dias parece quase podia voar por aí nem uma libélula tonta, curvando e contracurvando uma gambiarra esquecida num alpendre de traseiras.

Tem horas parece deixei um pé esquecido numa sapata de betão e que nem tu viesses eu ia querer abalar.

O mar vem, vai , volta, torna a ir, nem eu sonhando. Sem saber quando lá ou quando cá. Deixo-me ir, assim, que nem chuva cai do céu, desce ribeiro, e vai, vai, até uma praia, de encontro ao mar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Vir e talvez voltar




A esta hora já o Rafa pisa terras de Moçambique e só lhe faltam dois dias para abraçar a família lá no Inhambane natal. Os corações dos que ficaram estão ainda mais apertados do que é costume. É um misto de tristeza, de alegria, de inveja, de ansiedade e de pressa de afogar saudade.

O Rafa, o Nilton, a Zé, a Edviges e tantos outros jovens chegam do lá longe para estudar em Portugal, onde julgam vir encontrar o quase paraíso. A serpente da burocracia e a cegueira dos homens atraiçoam-nos a mais das vezes. O ano lectivo há muito começou quando aterram em Lisboa, a bolsa tem vezes não chega quando devia, o frio aperta e o agasalho e o calor da família faltam, sentam-se à mesa de ninguém e ninguém pergunta como vão. Quase muito é diferente, novo e desconhecido. É sempre muito difícil não desistir do sonho que os trouxe: voltar à terra com um curso superior concluido.

Vimo-los partir levando esperança, saber e vontade de participar na construção dos seus países. Os que ficam, fortalecem a crença de que também eles vão ser capazes e que o tempo vai quase voar até à hora do embarque final.

Infelizmente muitos ficam pelo caminho e não voltam no breve programado. Acabam ficando por cá, em empregos voláteis, acreditando que estão de passagem numa terra que sabem será a dos seus filhos.


Voarás alto, lá longe.
Por cá ficarás sempre nos nossos corações.
 
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