quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sabes?

Sabes aquele livro que quase sei de cor?
E o choro de guitarra que m’arrepia até à medula?
Sabes aquela praia onde o mar me embala em dias de dor?
E o lugar da serra onde o silêncio me fala tão mais alto?
Acho nem sonhas.
Um dia, quiçá, voaremos juntos, por aí.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Estás aí?

Luz. Dá-me luz. Não me deixes ir penumbra afora. Abraça-me. O mundo escureceu de repente. Vem. E traz-me luz. A tua luz. Um silêncio. Um olhar. As tuas mãos. Diz-me, estás aí?

domingo, 23 de novembro de 2008

Quem?




"... a gente só quer chegar a casa, encontrar o homem da gente com boa cara, dar uma esfrega e apagar, ..."

in "Navalha na Carne"

domingo, 16 de novembro de 2008

Por aí...



O bom que foi ripar umas dúzias de azeitonas no olival de quem bem nos quer, lá para os lados de Alcoentre. Mas como sempre, de fugida. O bom que foi vir por aí abaixo pela A qualquer coisa, entre vinhedos ocre e avermelhados, neste dia solarengo e luminoso, sentindo a frescura da brisa e ouvindo música bem alto, só pra mim. O bom que foi encontrá-las felizes e contentes ainda antes da hora combinada e muito antes do jogo estar ganho. O bom que foi ouvir notícias da emoção derramada no lá longe.

Aqueço as mãos na caneca de cacau. O mar marulha. O farol acorda.
Deixo-me ir ...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"Regresso às origens"

Hoje o dia começou ontem, lá prás sete da madrugada. Ainda geava quando largámos por aí. Foi um encruzilhar de assuntos e papeis, de conversas e decisões, de desespero e ironia, de palavrão desenfreado e ataques de riso. Até de fome e de luta contra o tempo.

documentos. compras. fotocópias. faxes. mailes. telemóveis sempre a tocar. dúvidas? horas? pesos? moradas? contactos? doenças? mais telefones a tocar. mais papéis. mais cópias. e faxes que não chegam. e as horas que passam. e compras que faltam fazer. e. e. e...

Praça de Espanha!
Andar por ali é entrar um bocadinho noutros mundos. Quase quase viajar. Mistura sadia de muito. Gentes. Cheiros. Roupas. Sons. Descansa-me deslizar por entre as tendas. Parando nas bancas. Perguntando preços e cores e tamanhos. Conversando sobre tudo e sobre nada. Deixando-me ir na música das vozes desta babilónia de regateio de ilusões.

regresso à lida. impossível parar. acho nem conseguiriamos. e mais estrada. troca volantes. apanha miúdas. recolhe miúdos. entrega-os todos.respira fundo. segue. pesa malas entre jantares ao lume. encaixa quilos de alho. e folhas de louro que resmalham. falta knorr. corre para a loja. de carregador ou de pilha? pijama ou camisa de dormir? o remédio acabou. o frasco do creme partiu. passaportes e mais passaportes. fotocopia BI's e AR's pra quem é estrangeiro em terra praticamente própria. e faltam dois. foi só ao café. já saiu do café. tá mesmo a chegar. foi. fomos.

Quando subimos o Alto da Loba em direcção a Caxias a lua rompia. Marela. Ridonda. Lá em riba, na céu. Parece queria iluminar-nos o caminho. Acho até queria era fazer a noite dia. Conseguiu.

arruma. imprime. emaila. assina. confere. rasga. escrevinha. e ri. de cansaço. de dúvida. e fecha a mala. e o saco. pega a bagagem de mão. e a malinha de primeiros socorros. olha o portátil. e os documentos. confere. conta. ata fitas. põe cadeados. e chora. de dúvida. de cansaço.

O sol já brilha. De bairro em bairro esperam-nos sorrisos abertos e fatos domingueiros de dias felizes. Chegou o dia. De bairro em bairro. Parando. Abraçando. Acenando. Indo. De bairro em bairro. Deixando esperança. Alimento de vida.

No âmbito do projecto da Associação de Solidariedade Social Assomada "Regresso às origens", com apoio e financiamento da Câmara Municipal de Oeiras, partiu hoje para o seu Cabo Verde natal, um grupo de 20 idosos, residentes no concelho de Oeiras e que não visitavam o seu país há mais de 25 anos. Vão abraçar familiares e amigos, conhecer irmãos, filhos, netos e sobrinhos, chorar sobre a campa dos pais e cumprir a promessa guardada desde o dia da partida: voltar!

- Mana, olha por eles. E Nhor Dês tambem.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Tenho frio



Acho hoje nublei. Já amanheci enevoada e todo o dia ameacei tempestade. Pluviosidade acima de qualquer média prevista para a estação. Quase quase a trovejar. Cá dentro tudo relampeja. Ao primeiro ribombar, a Santa Bárbara perde autoridade sobre o catavento e, céu afora, desenharemos caminhos directos aos sonhos. Não demores, tenho pressa de amar.

domingo, 9 de novembro de 2008

Dia de domingo???

As nossas miúdas são mesmo as máiores. E simpáticas. E giras. E alegres. Às vezes um bocado parvas. Têm o seu quê de irresponsabilidade. Tagarelas. Um bocadito atrasadas. Diabas vivas com uma bola de andebol nas mãos.

Neste fim-de-semana os três escalões - iniciadas, juvenis e juniores - estiveram em campo e todos três somaram mais uma vitória.

É um prazer do tamanho do mundo ver o pavilhão cheio delas, umas assistindo ao jogo das outras, apoiando as mais novinhas, partilhando lanches e trocando piropos na viagem de regresso.

Não sei se esse é o lado direito ou o esquerdo da minha vida. Se calhar é ainda um outro dos não sei quantos que vou descobrindo.

E da adolescência delas salto para a adolescência masculina que mora cá em casa e que começa a despertar. E mais a que já está demasiado acordada para o adiantado da hora do dia. Todos de boca aberta, na ânsia duma refeição quente que tão sofregamente vão devorar, que nem saberão contar do que se tratava.

Não nasci para fada do lar, e isto é mesmo um desabafo. Com tachos e panelas, fogões e colheres de pau faço o gosto à minha faceta de boa cozinheira de intervenção rápida, mas quanto ao resto ... acho até que quase mais valia era voltarmos à moda da idade da pedra e usar assim umas vestimentas que não carecessem de ferro de engomar.

Hoje tinha que ser o dia. A roupa foi amontoando muito para além do previsto e, praticamente já nem havia lugar onde sentar. A ponta dum lençol acenava-me de entre duas tichartes e um par de meias por enrolar, tropeçava numa manga de camisa e sentia-me ameaçada por uma rima de toalhões prestes a desabar. À minha passagem, com toda a certeza. Cedi. Montei a bela da tábua de passar e mãos à obra!

Horas e horas de combate aguerrido.
Acabei de acabar e cumpri o prometido. Meti-me na carrinha, rumei ao McDonald's de Carnaxide e deliciei-me com um enorme sundae a nadar em chocolate quase morninho e atulhado de crocantes amêndoas torradas.

Coisas de mãe de família...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pariçú bazu!




Não foi homem de nenhuma. Gostava de seara alheia.
Não foi patrão de ninguém. Encomendava serviço.
Não que já fosse cota. Já não ia era pra novo.
Nunca conhecera letras. Universidade da vida...
Manco duma perna só. Da outra fazia oitos.
À noite lia as estrelas. De dia descansava as vistas.
De santo não tinha nada. Também não era mau homem.

'Pariçú,
vou sentir falta dos teus lembras(?) e das tuas tretas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

No soy digno de ti



Estava lá. Naquela rampa de calçada, que sobe da estação da Damaia em direcção à Buraca. Ali, mais ou menos a meio. Como se estivesse à espera dum tempo que nem sabe já passou. Casaco de cotim puido de muitas madrugadas de rua, boina à banda qual Che sem bazuca, mão estendida na espera de nada,olhos esbugalhados de mágoa e voz rouca de vidas perdidas em garrafas de litro.
Falava de si. Para si.
O rádio rosnava o velhinho "No soy digno de ti".
Gargalhou.
- Tu é que tens razão ó aparelho, eu não valho mesmo nem um par de pilhas novas ...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Invernando

Nasci no Inverno por engano. Já era apressada e raspei-me do ventre demasiadas semanas a mais do que devia. Pura ignorância. Desconhecia esta coisa do frio, dos dias que acabam à hora do lanche, da água da Meia-Praia que fica imprópria para mergulhos, do sol que demora mais que bué a aquecer corpos mais-que-vestidos e ainda as constipações com tosses e ranhos que nunca mais acabam e a geada matinal que me entorpece os ossos.

Quer dizer, nem tudo é ruim. Há aquela parte dos cházinhos de ervas, da magia do lume na lareira, das cores, dos cheiros e da luz da Serra de Sintra em despedida de Verão, dos passeios matinais por praias desertas e da baixa lisboeta iluminada de solidão na espera de mais um Natal.

O pior é mesmo o Novembro. Emaranho-me nos cachecois e não acerto com a quantidade de camisolas. Aqueço de menos a água do saco e deixo acabar a lenha. Depois vou-me acostumando, e quando a Primavera chega, continuo a andar de capote e carapuço, a emborcar copázios de sumo de laranja e a embrulhar-me numa manta eternamente esquecida no sofá.

Até lá o melhor dos meus Invernos há-de chegar. Uma tarde inteira de sorna entre as dunas da Ponta do Medo, enroscada num já muito usado cobertor, escutando tudo o que o mar tem pra me contar, entre o sal molhado das lágrimas dele e das minhas. Tem vezes discordamos e grito com ele. E choro e blasfemo. Tem vezes chove. E caminho. De costas viradas para a ria, despertando gaivotas e desafiando o vento.

Bebo umas goladas de café directamente do termo. Sacudo o excesso de maresia e faço-me à estrada. Parece nasci de novo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Inocência?

- Olá. Não me conhece?
-
És filha da Marta?
-
Não, sou sobrinha.
- Tás muito gira.
-
Tou é assim pequenota ...
- Mas vais crescer num instante. És de que ano?
-
1995. Fiz 13.
- Agora com o desporto é que vais dar um pulo grande. Vais ver, não tarda nada e já tás aí toda esbelta...
- É...
- E essas maminhas são todas tuas?
- Mais ou menos...
- É???
- ... Deixe estar que eu depois deixo-a brincar um bocadinho às avós.

 
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