terça-feira, 12 de maio de 2009

Deixa-te ir ...

Sabes a ladeira dos Barronhos? Aquela cheia de armazéns e portões cinzentos que parece quase nunca abrem? Sobes, sobes, sobes, e lá no cimo de tudo, depois dos campos de milho verde, onde já nem os repolhos crescem, tens assim tipo uma fábrica de cenas de inventar. Podes até pensar que é alcool ou ganza ou até que pirei de vez ou fiquei com cabeça tonta de altitude, mas não é nada disso. Sentas-te fixe, assim meio deitado, fechas os olhos e começas a olhar pra dentro, mansinho como quem nem quer ver. Aí a cena começa. Ventania, passarada, nuvens desvairadas de encontro ao mar, o resmalhar dos arbustos e aquele cheiro bom de oregãos e rosmaninho. Ao longe ouves os jogos de bola, as cantilenas das miúdas na rua do coreto, o ralhar das mães e a reza do terço que começa. Adivinhas as carícias e os beijos escondidos, as promessas por cumprir e as solidões disfarçadas.

Deixa-te ir.
Nos sonhos, parece até o amor é de verdade.

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