sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Vó Natalina

Nem sei bem porquê mas hoje lembrei-me amiúde da Vó Natalina, anciã de origem africana com quem me vou cruzando de quando em vez. Falamos dos filhos, dos netos e do tempo mas nunca de mazelas, tristezas ou desventuras. Ela diz que a fazem ficar mais manca, mais feia e lhe tiram anos de vida.

Quando numas manhãs de fim de Verão começámos a falar da possibilidade de ir à terra rever família, lugares e amigos, Vó Natalina animou com a ideia da viagem e de se livrar por umas semanas da rabujice de quem doze filhos lhe dera a parir. Já praticamente de malas aviadas de roupa nova e presentes para os sobrinhos mais que bués, comunicou, solenemente e de cara fechada que já não ia e nem valia a pena insistir porque a decisão estava tomada.

Tinha revisto a sua vida desde a partida do lá longe, há quase quarenta anos, quando, segundo ela, era jovem, bonita, bem grossa e moça muito desejada pelos jovens casadoiros da terra. Não os podia desiludir, voltando velha, gorda, desdentada, manca e, ainda por cima, comprometida com o Jaimito na graça de Deus nosso senhor até que a morte o levasse, porque ela ir à frente pró buraco é que era coisa que nunca haveria de consentir.

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