segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Ti Agostinho

Quando em férias, gosto de me sentar no Largo Gil Eanes, pela manhãzita, a ler o meu DN e a beber o primeiro café do dia.

Numa dessas quase madrugadas, por sinal enevoada, o Ti Agostinho, aproximou-se pra me dar os bons-dias e uns poucos de dedos de conversa.

O Ti Agostinho gosta de dizer que já fez nove dezenas há pra cima de cem meses e, que tem idade própria pra pensar e dizer tudo o que pensa. À noite costuma sentar-se no poial da porta e ler os recados das estrelas sobre o que diz respeito à lavoura e à prenhice do gado. Quando tem parceiro toca harmónica e canta ao desafio aquelas modas malandrecas costumeiras do barrocal algarvio onde viveu toda a vida, até decidir, por vontade e pé próprio mudar-se pró lar por si escolhido.

Falou-me do bom que é a brandura matinal para o amadurecimento dos figos, dos calos que lhe atormentam os pés, dos chatos que são alguns "velhos" lá do lar, da simpatia das funcionárias, do conforto das camionetas da carreira de hoje em dia, da carestia das contribuições, ...

Um comparsa passou e reclamou a sua presença para um joguinho de bisca lambida. Levantou-se e despedimo-nos. Já lá ia mas voltou. Mirou-me e remirou-me. Deu uma voltinha à cadeira onde me sentava. E outra ainda no sentido inverso. Pôs-me então a mão no ombro e pesaroso:

"- Conceiçanita, vomecê tá tã gorda. Velha. E feia."

Fez uma pausa. E, de novo:

"- Velha. Gorda. E feia! E era tã jeitosita..."

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