segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Hoje dia não

Amanheci cinzenta, como o céu, ou então foram as nuvens que entraram no meu tom para me não contrariar.
Redimi-me dum ano inteiro de impaciências e crises de mau feitio de braço estendido, no serviço de sangue dum hospital, deixando-me sugar para bem alheio. Há quem se confesse ...
Arrastei-me de lá com todas as memórias de dor e de esperança que o lugar já me deu. Retemperei forças num areal deserto, ao rugir do Sueste, trincando ora nozes ora chocolate negro e afogando mágoa, à falta de tinto, num pacote de sumo de maracujá, nectar da paixão sem ela.
Volto à estrada num carro que não queria meu. Os meus pés, acostumados a pedais de machimbombo deixam-no ir abaixo todas as vezes que não devia. As três horas de espera são duras de roer. O cd do Zeca Afonso em vozes alheias roda e torna a rodar e, quando, lá na inspecção, chamam o proprietário do veículo tal e ouço o meu nome, a resposta foi a mesma de quando perguntaram a quem se destinava o sangue: golpe fundo, de morte.
Sem querer abri pranto e rolei, rolei, serra acima até o nevoeiro não mais me deixar seguir até à Foia. Ouvi o silêncio na penumbra do vale e o eco do meu choro de volta.
Parece só hoje te enterrei, pai.

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