segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

nostalgia

Os olhos da minha mãe nunca foram muito brilhantes. Condiziam com o ar triste e belo que sempre lhe conheci. A sua serenidade contrastava com uma quase permanente preocupação com o que não nos preocupava a nós, tidos por ela como seres pouco responsáveis e demasiado optimistas perante o estado da vida e do mundo. Houve alturas que me pareceu que, assim como nuns repentes de luz, se permitia ser feliz. Dançavam os dois sempre de olhos nos olhos e lia-se que, apesar dos muitos anos, das zangas e discórdias, a paixão nunca morrera. Numa noite como as outras, ele abriu muito os olhos verdes e disse-lhe que parecia tinha chegado o fim. Infelizmente não se enganou. Os olhos da minha mãe perderam o brilho, o cabelo embranqueceu de vez, o mundo vestiu-se de negro e a casa da minha infância tornou-se um lugar de silêncios, sombras e dor. Cada vez dói mais vir a Lagos.

2 comentários:

Flor de Sal disse...

Infelizmente também conheço bem esse sentimento...
Que o novo ano só vos traga alegrias, mamacita:)

Paula: pesponteando disse...

Vejo-te com uma certa tristeza nas palavras. Mas percebi bem mais forte a força de um amor verdadeiro, o qual nem Shakespeare conseguiria imaginar, é o amor real. Beijos querida

 
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